Thursday, December 28, 2006

Episódio 4: Mais tempo que o que se pensava

Já faz quase um mês desde chegou a deadline e o que ela determinava não chegou, obviamente. Só é óbvio agora que o tempo passou (aliás, só o passado é óbvio. No presente, o que temos é sempre inesperado).

De qualquer forma, eu inesperei (se há um verbo que expresse o contrário de "esperar") um compromisso (novo) sério a que me propus estabelecer. Por muito tempo (e é esse o detalhe: muito) ainda queria o compromisso antes desfeito. Na verdade, é preciso entender que quando ciclo acaba, outro se inicia - do ponto inicial, for the record. Isso é óbvio quando se percebe que se demora muito tempo até atingir um compromisso sério, até ser capaz (ou pelo menos ter a vontade) de se envolver de forma madura e não é porque se atingiu isso uma vez, que vai ser simples atingir tal ponto novamente.

Quanto ao muito...

Muito tempo, sendo muito o que expressa a distância entre o tempo que se esperava ser necessário para superar e aquele que de fato leva para tal (e esse dia ainda não chegou).

Mas...o que é superar?

Talvez seja esse o ponto, talvez seja essa a frase que se precise construir. Talvez sejam todas essas frases entremeadas de tantos parênteses que torna difícil cumprir uma meta com data estabelecida. Só sabemos a data certa, só contabilizamos o tempo necessário quando finalmente algo acontece. Só então se torna óbvio. Até lá a caminhada de Charlotte segue indefinida, esperando-se que haja mais esperanças que inesperanças para a próxima temporada.

Monday, September 04, 2006

Episódio 3: The turning point

Não sei se acontece com todo mundo - talvez só seja assim na vida de uma personagem, estudante de Letras, que escreve uns "episódios" - mas o que muda as coisas de fato, são umas poucas palavras. A escritora Beverly D'onofrio diria:
"A day can make your life, a day can ruin your life. All your life is four or five big days that change everything".
Eu trocaria day(s) por word(s) e as palavras do último turning point vieram em latim.
Era aula de Estudos Clássicos. Foi lido um poema do Horácio que termina com uma frase bem conhecida: Carpe diem: quam minimum credula postero. Talvez seja exatamente a exarcebada crença no futuro que nos atenha tanto ao passado. Naquele momento, uma faísca de lucidez equacionou essa relação passado-futuro e decidiu consumir a frase do Horácio. O ponto de mudança aconteceu, mesmo tendo sido usado como matéria um verso que remeta a tantos fatos passados. Dessa vez o colhe o dia não foi o principal e, sim, o creia menos no futuro.

Aí veio o turning do turning: o que era para significar "crer menos no futuro", traduziu-se como "algo de muito bom está para acontecer".

Por alguma razão desconhecida - e são essas, as melhores - formou-se uma intuição de que um grande presente está para chegar. A expectativa é inerente ao ser humano. E nos move.
Mas não era precisamente essa expectação que tornava difícil o rompimento com o passado?
O que a torna vital ou letal é simplesmente a projeção do que esperamos. A minha projeção agora é que se fizer sol, eu ficarei feliz em usar roupas leves. Se chover, eu vou gostar de ouvir o som dos pingos no meu guarda-chuva.

Monday, August 21, 2006

Episódio 2: No Vale das Namoradas Abandonadas

Em certa aula de Estudos de Língua Portuguesa, a professora nos faz uma pergunta retórica: Com que freqüência vocês escrevem?
Aquilo chegou aos meus ouvidos como um chamado. Há alguns anos, eu passava pelo menos duas horas escrevendo diariamente. Agora, que sou estudante de Letras (da USP, for the record, porque eu tenho que me exibir, claro), tenho um blog parado há quase um mês. Portanto, por motivos acadêmicos e por me encontrar um pouco mais equilibrada emocionalmente, fiz a resolução da resolução: documentar, como prometido, a resolução blevers, blevers, vocês conhecem essa história.

Então...

Ao longo da minha caminhada no Vale das Namoradas Abandonadas, esbarrei com aquele tipinho típico, freqüentador assíduo do Vale: o amigo do ex que te acha gostosa desde a época que você era a atual.
Trata-se de um menino (ele tem 18 anos) que é até bem evoluído para a idade. Passamos a nos comunicar por Msn e aos poucos foi se revelando o que já estava se mostrando bem óbvio: estávamos interessados um pelo outro. Observamos aqui, um candidato em potencial para a obtenção da meta. Segue a lista de atributos:
- Muitas afinidades, o que significa horas de boas conversas. Tudo o que uma mulher quer.
- Mais afinidades, isso quer dizer "ele é tão pervertido quanto você". Hum...Tudo o que uma mulher quer 2.
- Ele é o oposto do seu ex.
- Ele é amigo do seu ex, o que dá um gostinho de vingança, ainda mais quando estamos falando de um ex de 35 anos e um "candidato" de 18. Homens são inseguros em relação à idade (mulheres também).

Mas, ele tem um atributo que invalida todos os outros:
- Namorada, há pouco mais de um ano.

Eu já tinha conhecimento deste fato, mas àquela altura, em um momento "Samantha-apoderou-se-do-meu-ser", a minha resolução tinha passado de relacionamento sério para uma boa trepada.
Obviamente, tudo na vida tem dois lados. Se o jovem palhaço sabe fazer coisas interessantes em tão tenra idade, ele também sabe fazer outras repugnantes. Temos aqui o caso clássico da enrolação dupla:
1.O ser diz para a namorada que a ama, mas flerta com outras.
2.O ser diz para as outras que o relacionamento está acabando e promete trepadas e muita diversão.

Claro que eu não caí nessa. Posso ser perdidamente apaixonada por um ser desqualificado, mas de resto, eu tenho controle da situação.
Decidir mentalizar uma deadline ao aprendiz de palhaço: combinamos a transa para o fim de semana seguinte, se ele revogasse, adeus ex-namorada-gostosa-do-seu-amigo.
Foi o que aconteceu.
Nos falamos por Msn no domingo. Ele veio todo se desculpando por não ligar, que teve uma viagem, mas que ainda queria muito...
Eu, como uma mulher direta e sucinta, simplesmente disse:
- Ah, baby, eu conheço bem história.
E ele, "inocente":
- Que história?
Ao que respondi:
- A história do que cara que provoca, provoca...mas no fim, fica com medo de trair a namorada.

A conversa não se estendeu muito depois dessas linhas. Ele, como era de se esperar, saiu de fininho e voltou a mandar mensagens via orkut dizendo "eu te amo" para a namorada semi-corna. Tenho pena dela.

Apesar da não-trepada, o saldo foi positivo: ele me distraiu por alguns dias e eu exercitei bem a idéia de não perder tempo com algo pouco promissor.

**adivinha quem acabou de mandar mensagem? (risos)

Saturday, July 22, 2006

Episódio 1: Resolução

Aí um dia eu fiz uma resolução: vou arranjar um namorado sério até o fim do ano.

Isso é um bom jeito de começar uma série? Talvez não. Mas foi assim que aconteceu. Ou quase.

Um dia ele me deixou. Não me ligou mais, não me atendeu mais, mudou-se para um planeta onde não há espaço para mim. Percebi, depois de algum tempo, que ele não me deixou um dia, ele sumiu um dia e eu sofri por muitos outros.

Em uma tal segunda-feira, com minhas amigas e Sex and the City do dvd, Charlotte bebeu demais e resolveu arranjar um marido até o fim do ano. Por mais que aquilo tivesse algo de cômico, surreal ou simplesmente, ficcional, acabou fazendo brilhar no meu olho uma lucidez insana e algumas peças se encaixaram naquele momento. Encaixaram-se e ficaram lá, por alguns dias.
No dia 20 de julho, Dia do Amigo, joguei minhas peças - encaixadas - na conversa com minha amiga Julie.

Segundo ela, foi uma resolução de Dia do Amigo. Faz sentido. Costumamos fazer resoluções de fim de ano e de aniversário porque são datas que marcam inícios de novos ciclos. De alguma forma, o Dia do Amigo deste ano representou um recomeço, já que minhas amigas têm se desdobrado para me ajudar nessa fase tão difícil. Preciso ser uma amiga mais feliz para elas.

A felicidade não está em se seguir um padrão coletivo e sim o seu próprio. O meu padrão é "namorada perfeita", ou pelo menos é este o vigente. Não que eu seja ou esteja perfeita, mas a minha vocação é para ser namorada.
Não é muito fácil aceitar essa condição, que parece (ou talvez até seja) tão mulherzinha. Porém acredito ser muito pior tentar viver como uma Samantha quando se é uma Charlotte.

Fui dormir pensando na resolução, que requer mais objetividade e infinitamente menos subjetividade. O resultado no dia seguinte não podia ser outro além de uma enorme vontade de ligar para o ex. Liguei para a Julie ao invés disso.
- Se quebrar a cabeça dele fosse te fazer melhor, a gente faria isso pra você - ela disse.
Ouvir isso me fez reconsiderar a resolução e me esforçar ao máximo para voltar aos trilhos.
Passei o dia pensando nele. Sai de casa e esperei encontrá-lo quando chegasse de volta, o que obviamente não aconteceu. Lembrei das nossas coisas boas, lembrei das ruins. Imaginei o bom futuro que poderíamos ter, a vida que teríamos juntos e, no final, percebi que futuro do pretérito não é tempo verbal que mais me agrada.
A resolução - for the record - é, objetivamente, alcançar o objetivo. Cortando, da mesma forma que fiz no texto, qualquer divagação filosófica sobre qualquer coisa.